sexta-feira, 28 de março de 2008

Helis Russos prontos para os fogos

Dois anos após a adjudicação, muita pomica e muitas horas de formação dos pilotos que os vão operar, os helicópteros russos Kamov estão prontos para integrar o dispositivo de combate aos incêndios florestais.

Vão ser a grande novidade na época de fogos que se avizinha e também, segundo os pilotos que com eles lidam, uma grande mais-valia, porque têm grande mobilidade e capacidade de ‘scooping’ – abastecimento e descarga de água.

Apesar de gigantes, estas máquinas, que custaram ao Estado 45 milhões de euros, voam com 'leveza' e 'grande estabilidade', ao ponto de servirem também para as missões de transportar órgãos e de busca e salvamento.

Até ao próximo dia 15 de Maio, apenas estão ao serviço da Autoridade Nacional de Protecção Civil dois Kamov – estacionados nas bases aéreas permanentes de Loulé e Santa Comba Dão.

Amarelos e com riscas vermelhas, os bombardeiros-pesados Kamov impressionam pelo tamanho. Mas 'é na capacidade de despejar água que se evidenciam', afirma Rui Santos, comandante da Base Aérea Permanente de Santa Comba Dão, salientando que o balde que lhe está agregado tem capacidade para, em 30 segundos, abastecer 4500 litros de água. Para se ter um ponto de comparação, os helicópteros que anteriormente estavam ao serviço da Protecção Civil dispunham de um balde com capacidade para transportar apenas mil litros.

'Esta é a grande diferença. São de fácil operacionalidade e parece que voam de ‘fininho’', afirma Rui Santos, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Santa Comba Dão.
Os pilotos garantem que os Kamov 'vão ser uma mais- -valia no combate aos fogos'. João Lima, de 45 anos e com larga experiência a manobrar helicópteros em incêndios – tem 4700 horas de voo –, afirma que os helis russos 'são pesados e estáveis' mas requerem uma 'técnica apurada' para levantar, operar e estacionar.

'Todas as máquinas são especiais, mas estou convencido de que estas dispõem de tudo para cumprir os objectivos', diz João Lima, um dos 12 pilotos em serviço na Base de Santa Comba Dão.

Os Kamov são operados por dois pilotos e têm capacidade para transportar sinistrados em macas e 13 passageiros sentados. 'São aeronaves polivalentes e muito fáceis de manobrar', diz o capitão José Guilherme, de 29 anos e com 300 horas de voo. Este piloto foi requisitado ao Exército e vai participar pela primeira vez no combate aos incêndios.

O Kamov está operacional na Base de Santa Comba Dão desde Fevereiro e já combateu fogos em Sintra e Ponte da Barca. 'Foram ocorrências prontamente resolvidas mas deu para ver que se trata de uma máquina espectacular', garante o piloto José Guilherme.

João Lima rebate as críticas que têm sido feitas quanto ao tempo de resposta da máquina: 'O helicóptero está no ar num prazo de sete a oito minutos.' Se não tiver o balde, a operação demora cerca de meia hora. 'O importante é rentabilizar as suas potencialidades no ar'. ~

43,3 MILHÕES PARA COMBATER INCÊNDIOS


São 34 os meios aéreos já contratados, à disposição da Autoridade Nacional de Protecção Civil para este ano. Os restantes 22 meios, de que se desconhece modelo ou características, ainda estão em fase de concurso. Ontem, o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, afirmou no Parlamento que o Governo desistiu de comprar os dois aviões para combate a incêndios. Serão substituídos pelos helis Kamov, uma medida que 'permitirá poupar 60 milhões de euros, dos quais 13 milhões serão destinados ao recrutamento' de agentes da PSP e GNR.

Os 56 meios aéreos representam uma despesa de 23,5 milhões de euros, num total de 43,3 milhões de euros para o combate aos fogos. Dos meios disponíveis, de 1 de Julho a 30 de Setembro, a ANPC conta com quatro helis médios Bell, 16 ligeiros Ecuril e seis aviões médios Air Tractor, além dos oito Dromadair, ao serviço entre 1 de Junho e 15 de Outubro.

UM MILHÃO DE HECTARES


Nos últimos cinco anos, as chamas devoraram um milhão de hectares de área florestal. No ano passado, os 3556 incêndios referidos no relatório anual da Direcção-Geral de Recursos Florestais queimaram 31 450 hectares.

Comparando com o pior registo dos últimos cinco anos – em 2003, altura em que arderam 425 232 hectares –, a área ardida em igual período de 2007 foi de apenas 3,7 por cento. O distrito de Vila Real foi o mais afectado no ano passado, tendo registado 498 sinistros.

Já o distrito de Coimbra foi o que registou menos incêndios, com 22 ocorrências.

DISCURSO DIRECTO: 'VAI SER UM ANO MUITO COMPLICADO':


Xavier Viegas, investigador universitário
CM – Qual é a sua previsão para a época de incêndios?
Xavier Viegas – Este vai ser um ano muito complicado. Os dados de que disponho são relativos ao distrito de Coimbra mas representam bastante bem o resto do País e indicam que este ano poderá ser um dos mais complicados dos últimos anos. – Porquê?
– A precipitação neste Outono e Inverno esteve abaixo do que é normal e por isso não iremos ter água suficiente no solo.
– O que falta fazer na prevenção?
– Ganhar a batalha de conquistar as pessoas, de formá-las e informá-las para que não tenham comportamentos de risco. Trabalhar a prevenção com as pessoas e prepará-las para reagir em situações de incêndio.

DADOS SOBRE OS KAMOV COMPRA


O Estado adquiriu seis helicópteros Kamov e quatro aviões, por 45 milhões de euros. Adjudicação foi feita há dois anos. Estes Kamov foram construídos por encomenda especial de Portugal. São novos.

ONDE ESTÃO


Na época fora das fases dos incêndios estão todos sediados na Base Aérea de Ponte de Sor (onde está situada a Empresa de Meios Aéreos, criada pelo MAI), exceptuando dois que estão nas bases permanentes de Loulé e Santa Comba Dão. Na época mais complicada de fogos vão ser espalhados por todo o País, sobretudo nas zonas mais sujeitas aos incêndios.

PARA QUE SERVE


Combate aos fogos e salvamentos, em terra ou no mar. O Kamov está preparado para resgatar vítimas (duas deitadas e cinco sentadas). Já resgatou um grupo de turistas que se perdeu na serra do Gerês e participou nas buscas de um homem que naufragou no Atlântico.

MEDIDAS


Seis metros de altura e 16 de comprimento. Devido à rotação das duas pás, necessita no mínimo de uma área de 90 metros quadrados de área limpa para aterrar.

PESO

11 toneladas


CUSTOS DE OPERAÇÃO


Cada vez que voa o custo estimado é de cinco mil euros.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA


O balde tem capacidade para armazenar 4500 litros de água em 30 segundos. Necessita apenas de uma linha de água com metro e meio. Pode encher tombando o balde ou sugando a água, usando quatro bombas.

OPERACIONALIDADE


Pode voar de noite e nas condições mais adversas.

FORMAÇÃO


Os 12 pilotos tiveram formação teórica na Rússia e prática em Ponte de Sor e Santa Comba Dão.

NÚMEROS


98 por cento dos incêndios que ocorreram no ano passado tiveram, segundo dados da ANPC, origem em actividades humanas

53 Nos últimos cinco anos morreram 53 pessoas em incêndios florestais em vários pontos do País

26 bombeiros que perderam a vida a combater a fúria das chamas entre os anos de 2002 e 2007, quatro dos quais em

2005

24 por cento dos sinistros combatidos pelos bombeiros tiveram origem em actos negligentes, como por exemplo queimadas mal feitas

22 por cento dos fogos combatidos no ano passado tiveram como causa actos criminosos

2 Apenas dois por cento dos incêndios florestais em 2007 foram causados por razões naturai

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS


Dois motores de 2400 cavalos
Guincho adaptado para operações de salvamento e resgate de vítimas

Megafone que serve de sirene e para dar indicações para terra

Holofote muito potente para operações de busca e salvamento à noite

Dois rotores (pás) – um gira para a direita e o outro para a esquerda

Capacidade para estabilizar duas macas em simultâneo

13 lugares sentados

Bombeiros de Foz Côa - Tel. 279 768 100; Mail - bombeirosfozcoa@hotmail.com

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