Os investigadores envolvidos no projecto interdisciplinar FUMEXP, que arrancou em 2008 e que até 2010 vai monitorizar os efeitos da exposição ao fumo por parte dos bombeiros portugueses, concluíram que os elementos que combatem incêndios florestais estão sujeitos a níveis poluentes «preocupantes».
Os bombeiros estão sujeitos a elevados níveis de poluentes nas operações de combate, em termos de PM2,5 (partículas inaláveis com diâmetro até 2,5 micra), monóxido de carbono e dióxido de azoto - assinala o estudo na véspera do Dia Nacional do Bombeiro, que se celebra quinta-feira.
E as consequências podem ser nefastas, segundo António Jorge Ferreira, Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e co-autor do projecto, que indica como factores de risco «o stress térmico, o aumento da carga fisiológica de trabalho físico, a sobrecarga psíquica e, sobretudo, o risco cardio-respiratório».
«A exposição aguda pode aumentar a inalação de substâncias perigosas e de elevado risco. A maior parte das publicações nesta área parece, também, indiciar um aumento do risco para o desenvolvimento ou agravamento de patologia respiratória crónica, nomeadamente a doença pulmonar obstrutiva crónica» , acrescenta.
O estudo - cujos primeiros resultados serão apresentados no VI Congresso Nacional de Queimados, numa sessão presidida pelo secretário de Estado da Protecção Civil, José Miguel Medeiros - adverte que o desconhecimento, por parte dos bombeiros e da comunidade científica, «invalida uma melhor prevenção».
António Jorge Ferreira considera que «a maioria dos profissionais está alerta para os riscos implícitos de incêndios industriais e urbanos em ambientes fechados e eventualmente com químicos perigosos», mas «tanto os bombeiros como a comunidade científica desconhecem os efeitos da exposição ao fumo durante os fogos florestais, invalidando a definição de estratégias de prevenção».
Assim, e embora o projecto apenas tenha conclusões definitivas em 2010, todos os resultados obtidos nas diferentes monitorizações realizadas têm sido comunicados aos bombeiros das corporações colaborantes.
«Estão envolvidas na investigação quatro corporações - Associação dos Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha, Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pêra, Bombeiros Municipais da Lousã e Bombeiros Sapadores de Coimbra - e são seguidos, do ponto de vista médico, 40 bombeiros» , revelou a coordenadora principal do projecto FUMEXP, Ana Isabel Miranda.
«A nível da exposição, são acompanhados dez bombeiros que levam o equipamento de monitorização quando saem para o fogo» , acrescentou a responsável, informando que os membros das corporações foram expostos à acção do fumo «em incêndios reais no Verão passado e em ensaios experimentais na Serra da Lousã, os últimos dos quais tiveram lugar há duas ou três semanas».
No âmbito do projecto, os bombeiros vão para o terreno com um equipamento «leve mas robusto» que é colocado na farda e que possui três pequenos sensores que medem partículas, dióxido de azoto e compostos orgânicos voláteis, explicou Ana Isabel Miranda, do Departamento do Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro.
Segundo a coordenadora do FUMEXP, os aparelhos incorporam também um mecanismo GPS (Sistema de Posicionamento Global) «que permite saber, a posteriori, onde é que os bombeiros estiveram à medida que foram expostos ao fumo», permitindo assim «relacionar a localização do bombeiro com o próprio comportamento do fogo».
A escassez de estudos e de dados, nacionais e internacionais, nesta área foram os motivos para a criação do projecto FUMEXP, que mobiliza três equipas: uma da Universidade de Aveiro, que integra, além de Ana Isabel Miranda, elementos como o ex-ministro do Ambiente e Recursos Naturais Carlos Borrego, outra da Universidade de Coimbra e uma terceira da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial.
Os investigadores da Universidade de Aveiro ocupam-se da análise do fumo, a equipa da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra aborda a componente médica e os elementos da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, também de Coimbra, contribuem com os seus conhecimentos sobre o comportamento do fogo.
Para os autores do projecto, urge «delinear estratégias de protecção e prevenção, bem como de formação específica das equipas de bombeiros expostas, nomeadamente no que toca ao uso de equipamentos protectores e de metodologia de combate aos fogos florestais, e criar planos e protocolos de vigilância médica regular dos bombeiros».
«No final do projecto será feita uma divulgação alargada dos resultados, no sentido de sensibilizar os bombeiros para a necessidade de utilizarem regularmente o equipamento de protecção de que já dispõem mas que, infelizmente, muitas vezes não levam para o terreno» , salientou Ana Isabel Miranda.
A investigadora adiantou à Lusa que o projecto «tem ainda uma componente de simulação, de modelação, que vai agora começar».
«Com os dados já obtidos, vamos desenvolver um modelo que seja fácil de aplicar e que nos permita, em tempo útil, calcular valores de concentração no ar ambiente e valores de exposição, de modo a definir as melhores estratégias para a localização dos bombeiros» , explicou.
A intenção é que, em função das características do fogo, seja possível dar indicações sobre a localização e os períodos de trabalho dos bombeiros, evitando que estes fiquem em pontos onde a concentração de poluentes é elevada ou que combatam o fogo durante mais do que determinado tempo.
Ana Isabel Miranda assinala que, «será sempre necessário coordenar estes conhecimentos com as estratégias de combate das corporações» numa situação de emergência.
«Já que dificilmente teremos o cenário ideal, ao menos esperamos que, no futuro, a exposição aos poluentes faça parte das preocupações das corporações quando estão a distribuir os bombeiros no terreno» , conclui.
Bombeiros de Foz Côa - Tel. 279 768 100; Mail - bombeirosfozcoa@hotmail.com
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