quinta-feira, 31 de março de 2011

ARTIGO DE OPINIÃO

 Não somos ou não querem que sejamos?

Nem só de contos e histórias vive o homem, nem só de verdades se formam as lendas, nem só o que se diz sem se fazer pode ser fácil. 

Por todos nós e á medida que os anos passam, as circunstâncias da vida e da vivencia fazem-nos pensar e agir de maneira diferente, alguns de forma madura mais matutina e outros um pouco mais tarde, mas todos dependentes das conjunturas ou das identidades próprias, congregando entre as opiniões e formas de estar um conjunto de situações que traçam uma rota final rotulada com a impressão digital do interveniente. Contudo, existem sempre aqueles que apenas resolvem plagiar as situações e divulga-las carregadas de identificação, nem que, como o povo diz, “a esse conto se tenha acrescentado um ponto.”

Como sempre, tudo o que é feito em Portugal tem pecado á nascença, independentemente dos objectivos propostos e nem que isso venha de certa forma enriquecer a sociedade, parte dela, pequenos grupos ou apenas um indivíduo.

 Há uns tempos atrás, nos pacatos corpos de Bombeiros de Favaios e Alijó, o INEM envolveu-se numa situação repreensível, digna de um país do terceiro mundo, concluindo-se com isso que afinal o interior norte estava a monte e que enfim, havia muito para fazer nesta “vergonhosa” parte do território. A culpa disto, como sempre, morreu solteira, arrastada pelas aguas revoltas do rio Douro tal qual os corpos do malfadado autocarro da queda da ponte em Entre-os-rios. Segundo os especialistas e críticos com o dom da verdade da altura, isto "foi uma lição" e serviu para "acordar Lisboa para o que se passa no Interior em termos de socorro"

A solução? 

Apareceu vinda da tão longínqua capital, onde formadores da Escola Nacional de Bombeiros resolveram abrir excepção e descentralizar a denominada “formação elitista”, ministrando nesta zona cursos de Tripulante de Ambulância de Emergência, impensável aos olhos dos Bombeiros locais mas perfeitamente compreensível às intransigências dos requisitos obrigatórios. Para os leigos nesta matéria, refiro-me a esta formação como, provavelmente, a imagem de marca e orgulho dos Bombeiros Portugueses que, incompreensivelmente carregam uma bandeira que nem sequer deveria ser a nossa. Apesar de fundamental, essencial e enriquecedora, não só para Bombeiros mas para toda a sociedade, não posso deixar de seguir a linha de pensamento dos mais evoluídos na Europa e referir um provérbio popular de forma antagónica, pois acho que devem ser dadas “nozes para quem tem dentes”. 
A par da disponibilidade total durante seis semanas aproximadamente (210 horas), os candidatos ainda têm de se deslocar para os locais de formação (Lisboa – E.N.B; Lisboa – INEM; Porto – INEM; Coimbra – INEM) e, no caso de terem a sorte de frequentar uma formação ministrada no INEM ainda carregam o peso de suportar os custos de alojamento e alimentação. Obviamente que um individuo, Bombeiro Voluntário de alma e coração, apaixonado pelos serviços consignados á emergência pré-hospitalar mas trabalhador por conta de outrem ou prestador de serviços por conta própria, fica limitado o resto da vida a frequentar os Cursos de Técnico de Socorrismo, carregados dos depreciativos que os elitistas dos Soldados da Paz atribuem a essas instruções e que, a bem da verdade e com a minha concordância, deveriam era ser obrigatórias nas formações escolares, pois 50 horas de teórico e pratico só revela o quanto amadores somos numa área toda ela profissional, ou então, suicida-se socialmente e engrossa as fileiras dos desempregados, viajando depois até aos grandes centros para se enriquecer curricularmente e receber… nada… mas enfim, é o que temos.
Claro está que, com a exclusão dos Voluntários acima referidos e após a selecção dentro do próprio corpo de Bombeiros, restam os funcionários das associações com o 12º ano, os estudantes pouco estudiosos, os desempregados e os funcionários públicos, que e em boa verdade se diga, maioritariamente são tão dúbios nas suas capacidades como na sua dispensa pelas suas Edilidades ou pelos seus “tutores.”     
A cidade onde sou Bombeiro e concelhos limítrofes não estão longe de uma realidade idêntica, mas que, apesar de poucos a aceitarem por ser demasiado vergonhosa, me faz citar o saudoso Zeca Afonso, “a verdade, essa, está algemada em masmorra hedionda”.

Mas afinal onde quero chegar…

No passado mês de Outubro, um fax enviado do Centro Distrital de Operações de Socorro solicitava disponibilidade de elementos para frequência de uma formação de Tripulante de Ambulância de Emergência, com início nessa semana no núcleo de formação regional do centro, mais concretamente no INEM Coimbra. Enviadas 4 candidaturas, pois existiam elementos com disponibilidade imediata, a esperança dos intervenientes teve a duração de algumas horas, pois uma resposta quase em jeito de errata informava o C.B. de Foz Côa que a entidade responsável por esta Associação é o INEM Porto. É de concordância, pois apesar de quase diariamente este concelho ser “chutado” por todos os iluminados que acham que têm a varinha de condão para regionalizar o País e o fazem da forma que mais lhes convêm, neste caso específico, onde todo o distrito da Guarda pertence ao centro e a Coimbra, nós somos os únicos a pertencer á cidade Invicta, fruto da divisão da operadora nacional de telecomunicações, pois o número europeu de emergência 112 vai até Bragança onde é atendido por um agente da polícia e viaja de seguida para o CODU Porto, temos algo em “comum;” o rio Douro.
Nas freguesias mais a sul e até á bem pouco tempo na própria cidade de Foz Côa, o 112 seguia da esquadra de polícia da Guarda até ao CODU Coimbra, chegando por vezes a causar embaraços nas passagens de dados feitas pelos tripulantes dos Bombeiros sobre o estado dos doentes e estando muitas vezes sujeitos a dizerem-nos como de facto chegou a acontecer, “vocês são do CODU Coimbra e esse numero de saída é de lá”. Esse foi um dos motivos que levou os Bombeiros de Foz Côa a solicitar á P.T. que actualizasse e uniformizasse a rede telefónica de forma a minimizar situações deste género, pois, até a marcação do numero 117 e como hoje ainda acontece, á excepção do telefone fixo dos Bombeiros, as chamadas têm todas como destino o Centro Distrital de Operações de Socorro de Bragança.  
Do Porto até hoje, o único elo de ligação que existe com o INEM norte é com os operadores e médicos do CODU e com o Staff técnico dos Helis SAV 2 e 3, estacionados no Hospital Pedro Hispano e em Macedo de Cavaleiros. Os apoios diferenciados terrestres continuam a vir do CODU Centro, neste caso da Guarda e a evacuação de vítimas/doentes urgentes continua a ser efectuada para a cidade da Guarda, supostamente pertença do denominado centro.   

Triste fiquei pelos Bombeiros que não puderam frequentar semelhante formação, por nem mais uma justificação ter sido dada, por se ter iniciado outro curso em Coimbra no mês passado e por mais uma vez se ter excluído sem sequer se ter incluído… Pois bem, sempre achei que os Bombeiros fossem todos iguais, mas afinal sou obrigado a chegar á conclusão que não somos porque não querem que sejamos…

“Este artigo é de opinião e é da exclusiva responsabilidade dos intervenientes.”

Sub-Chefe Rafael Almeida

Bombeiros de Foz Côa - Tel. 279 768 100; NOVO email - bombeirosdefozcoa@hotmail.com

Sem comentários: