quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Bombeiros em Portugal, os eternos ricos pedintes.


Portugal no seu profundo, país de rica cultura e tradição, recheado de bons e grandes valores humanistas, sensível no injusto mas deturpado na justiça, iludido pelos pensadores e levado pela crítica social, saqueado pelos responsáveis e irresponsável nas decisões… Este é um retrato mais negro do país onde vivemos, onde estamos inseridos. Segundo relatos emanados pelas altas entidades governativas, Portugal encontra-se em crise profunda, deprimido e amedrontado, obrigando o grande recheio humano e estrutural deste país a precaver-se nas despesas e a cortar nos orçamentos de toda a espécie como de uma bainha de um fato de gala se tratasse. 

Ainda hoje, como terapêutica pouco recomendada para sarar chagas profundas, o instituto do emprego e formação profissional relatou um novo aumento do desemprego para a barreira dos 11,1%, colocando mais uma dose depressiva nas hostes da sociedade civil e obrigando os novos e antigos desempregados a uma imersão de grande profundidade. 
Como parte integrante e base estrutural da sociedade, os Bombeiros em Portugal, pelo menos a sua maioria, vivem um dilema baseado nas decisões, na sua identidade e incerteza do futuro, comprometido com a instabilidade dos pilares económicos, que podem e vão abalar com todas as estruturas sociais. Iremos continuar a ser os ricos pedintes…

Os Ministérios; os Municípios 

As reformas actualmente impostas pelo ministério da saúde, baseadas na sua limitação orçamental, podem ter como primeira vítima os Corpos de Bombeiros que, como é do conhecimento geral, são financiados em grande parte pelos transportes de doentes não urgentes, alimentando com isso centenas de empregos nos Corpos de Bombeiros que vai desde o motorista assalariado ao operador de central. “O esforço é enorme”, queixam-se os dirigentes das Associações que se vêem obrigados a esforços redobrados para alimentar o funcionamento da estrutura e saldar os negativos mensais inerentes ao normal exercício das missões consignadas. A contínua preocupação em encerrar os “malfadados” SAPs que tanta despesa acarretam, obrigou a uma nova estratégia não menos estranha aos olhos de muitos críticos que por diversas vezes já vieram a público satirizar a iniciativa, tudo porque o sistema integrado de emergência médica, onde também está incluída a sociedade civil, se viu obrigada a colmatar as lacunas da táctica, criando em pontos político/estratégico os denominados de SUBs e dotar o INEM de mais meios diferenciados, principalmente no Portugal mais profundo. Se por um lado se pode enaltecer a iniciativa, por outro goraram-se as expectativas criadas e constata-se que afinal se tem de levar à letra a palavra de baptismo Básico – Serviço de Urgência Básico; Suporte Básico de Vida – onde se praticam acções de suporte Básico de vida, análogo do que qualquer Técnico de Socorro ou Técnico de Ambulância de Transporte fazem. Depois da atribuição das responsabilidades pré-hospitalares ao INEM, verificou-se um acréscimo de qualidade no serviço prestado, independentemente das críticas recentemente trazidas a publico pelo tribunal de contas. Incompreensível é, na minha óptica, que as ambulâncias de socorro somente sejam atribuídas às Associações que tenham elementos formados em técnicas por eles ministradas e reconhecidas, descorando todos os outros que também praticam socorro e que no fundo são tão básicos como os básicos que tripulam as SBV. Tenham pena meus amigos, de todos aqueles que, por viverem num concelho sem elementos formados em técnicas de socorrismo capaz de tripular uma ambulância nova, tenham de ser socorridos por elementos formados em “técnicas de socorrismo”… por uma ambulância velha… Neste aspecto, continuamente a ser uns ricos pedintes.

O ministério da educação, antevendo um cenário de estrangulamento, responsabilizou os municípios a efectuarem participação activa nas despesas com a educação, incluindo nesse lote os transportes, alimentação, entre outros, o que de certa forma veio apertar os cordões das bolsas endividadas da maioria dos mesmos, servindo esse actualmente como mais um motivo de desculpa para desorçamentar os magros subsídios atribuídos às associações de Bombeiros, desguarnecendo irresponsavelmente as protecções civis municipais na sua essência e por vezes até, passar a ideia que os responsáveis pelas lacunas de material operacional nos cenários de ocorrência são os Bombeiros e as respectivas Associações. Sobre esta situação o problema não é geral, pois acredito que a maioria dos municípios tem comparticipação económica activa nos Corpos de Bombeiros, mas a meu ver, continua a ser inconcebível e até inoportuno ouvir a sociedade civil dizer que os Bombeiros daqui ou dali não tem ou não tinham material para esta ou aquela situação e que por isso aconteceu semelhante tragédia. Durante muitos anos, prevalecendo até aos dias de hoje em locais onde ainda se vive numa política de idade média, as associações de Bombeiros serviram interesses pessoais e privados, sendo até palcos onde figuras publicas se gladiavam com edilidades, criando climas de instabilidade onde quem saía sempre a perder eram os ignóbeis voluntários e consequentemente quem deles necessitava. No meu concelho actualmente não é assim, não pode ser assim e esta nas mãos dos homens livres inverter semelhantes situações, obrigando os empossados a assumir os seus papéis e a cumprir com as sujeições para que foram eleitos. Com todos estes motes pergunto, porque não vamos responsabilizar os municípios pelas deficiências operacionais nos seus concelhos, remetendo para tal os pedidos à soberania sobre o pelouro da protecção civil, que quando eleito tem a possibilidade de assumir ou consignar? Contudo e felizmente para muitos corpos de Bombeiros é que uns não podem viver sem os outros mas, sem preto no branco selado por legislação de imposição e obrigatoriedade de financiamentos mínimos aceitáveis às necessidades, continuamos a ser uns ricos pedintes…

Sobre outras questões, como as distribuições azedas por passagem de validade de produto adquirido pelo Ministério da administração Interna, conforme verificado com as distribuições das viaturas do QREN, a criação da Força Especial de Bombeiros que, limitadas no espaço e no tempo estão resignadas à sua condição de actuação sazonal e que são um produto final dos ataques da oposição ao governo sobre as fragilidades demonstradas nos combates aos grandes incêndios dos Verões transactos, a par de ideia semelhante sobre as equipas de sapadores florestais tuteladas e comparticipadas pelo ministério da agricultura e suas dependências, não me alongo pois daria pano para mangas, prometendo esmiuçar semelhante tema num futuro oportuno.

Até já. Rafael Almeida.

Este artigo é de opinião e é da exclusiva responsabilidade dos intervenientes.

Bombeiros de Foz Côa - Tel. 279 768 100; NOVO email - bombeirosdefozcoa@hotmail.com

2 comentários:

Anónimo disse...

É realmente complicada a situação do país, mas mais preocupante do que isso são os milhares de pedidos de socorro que podem ficar comprometidos com as políticas desbragadas dos sucessivos governos. O problema não é só local (Foz Côa) mas sim nacional, porém, é a nível local e a nível de interior de Portugal que essas mesmas políticas destrutivas se vão fazer sentir. Será então necessário adoptar medidas mais drásticas por parte das Associações, adormecidas e paradas no tempo, com dirigentes retrógrados, e na minha opinião isso passará por um novo modelo associativo, adaptado aos tempos que correm e à realidade do século XXI. Visto que não podemos contar com o poder (local e nacional) têm de ser as Associações a dar esse passo.

Jaime Marta Soares disse...

Depois de analisar ao pormenor este 'post', quero afirmar ao seu autor que este é efectivamente o cenário que se vive em Portugal e que tem que ser a voz dele, como de tantos outros bombeiros de boa-fé, que terão de criar as condições necessárias para um projecto de rotura, que erradique, de uma vez por todas, esta situação.
Parabéns Sr. Rafael Almeida

O Comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Poiares
Jaime Marta Soares