As crianças não encontram explicações para a morte, sobretudo quando atinge o pai, aquele que nos chama "princesa". Essa falta, esse vazio, a Joana há-de sentir para toda a vida.
Sim, "e agora quem é que me chama princesa", "quem é que me vai buscar à escola"? Aos 10 anos, pode não entender as palavras dos adultos, o consolo da Igreja naquela nave repleta

Francisco Belo, bombeiro municipal do Funchal de 49 anos, foi a enterrar. Perdeu a vida para tentar salvar uma outra. Deixou dois filhos, mulher, seis irmãos e muitos amigos. Teresa, a jovem vizinha que ele quis tirar da torrente de lama e água, também já teve o seu funeral noutro local, em Santo António.
Enquanto o bispo do Funchal, D. António Carrilho, pedia para que a Senhora do Monte desse luz, ânimo e protecção a esta gente sem rumo e completamente dilacerada por algo que não consegue explicar. Uma amiga de longa data encostada à porta da entrada, diz: "Vim despedir-me do Francisco. Tenho 33 anos e conheci-o aos 18. Trabalhava na recepção de um parque de estacionamento quando fui assaltada. Ele já era bombeiro e foi nessa qualidade que me apoiou apesar de nem saber quem eu era", desabafa.
"Ficámos amigos para o resto da vida", disse. É desta disponibilidade que todos falam, a solidariedade que atinge cada um de nós nestas alturas. É a solidariedade do irmão Eusébio que acompanhou o caixão, da cunhada Célia e da sobrinha Sara. Nenhum deles se aguentava de pé nesta altura. Nem eles nem os colegas de Francisco, o corpo de bombeiros em que diariamente salvava vidas e colocava a própria vida em risco.
O grupo foi acompanhado pelo presidente da Câmara do Funchal, Miguel Albuquerque, que lhe prestou as honras naquele silêncio que se faz por respeito e dor, num cortejo de adeus até ao cemitério. É neste local que todos os gritos acontecem, talvez porque seja o local definitivo para todos. Como diz o povo: que a "terra há-de comer".
"É estranho que a casa dele e o carro tenham ficado intactos. A enxurrada passou à frente. Ele quis salvar uma pessoa e morreu, arrastado pela força das águas, indo bater num muro e entrando na garagem de uma casa", conta-nos a prima Cora, de 34 anos, recordando Francisco Belo. Falar mais para quê... "Já não o encontro na padaria de manhã, a sorrir. Já não tomarei com ele mais nenhum café", disse.
Fonte DN
Bombeiros de Foz Côa - Tel. 279 768 100; Mail - bombeirosfozcoa@hotmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário